Dezembro
Um mês que não vi passar. E, no entanto, a sensação é que o tempo deste ano se condensou e se dilatou ao mesmo tempo. É como se estivesse ainda em Março, a entregar uma encomenda em mão na biblioteca do Palácio de Cristal e desse com a biblioteca fechada, os autocarros vazios e uma sensação estranha na cidade. Por outro lado, o tempo deste ano parece ter-se dilatado, de confinamento em desconfinamento, mais dentro que fora de casa, com todas as mudanças a chegar mais rápido do que poderíamos prever. Nunca o imprevisível foi mais natural. Hoje não sei o que trará o próximo ano, e mesmo assim, continuo a fazer planos. Talvez seja essa a única forma de resistência (contra pandemias, governos autoritários ou a falta de esperança).
Neste Natal, espero que pensem no essencial e não no acessório. Que enviem prendas por correio, que enviem mais postais, e façam planos para os almoços e jantares que vão acontecer na Primavera. Acima de tudo, desliguem as apps e liguem às pessoas com quem não falam há muito tempo. Ou combinem um café (seguro e mascarado) com aquele amigo que não vêem desde o ano passado. Aproveitem as restrições dos primeiros dias de Janeiro para organizar os armários, preparar as conservas, costurar aquele vestido. Façam planos nas vossas agendas novas, sonhem com o futuro. Se a vida é o que acontece no intervalos dos planos que fazemos, é porque só estamos vivos quando imaginamos o futuro. No início de uma nova década, não há desejo mais actual: mais futuro, mais vida.
Derradeiro Guia de Natal do Porto
Publiquei novamente, a tempo da quadra natalícia um artigo que escrevi (e fotografei) no ano passado, e que este ano continua a fazer todo o sentido. Com tempo, com distância e cumprimento das regras podemos continuar a apoiar o comércio tradicional: no nosso bairro, na nossa rua, ou no centro da cidade. Com a esperança de, no próximo Natal, ainda lá estarem todas estas lojas e os seus lojistas.